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Histórias novas em desfile

Por Helena Theodoro

Os 15 anos de existência do Roteiro dos Desfiles, nos oferece inúmeras histórias, eternizando momentos mágicos, que trouxeram acontecimentos e propostas de uma comunidade criativa e plural: o povo negro do samba.

A escola de samba pertence a esta comunidade e desde sua criação enalteceu aspectos, quase sempre recalcados, omitidos ou deturpados, principalmente por tratarem do processo civilizatório africano no país.  Por conta disto, ao registrar esses acontecimentos, uma pequena revista passou a prestar um enorme serviço de informações para a imprensa, além de se tornar um agente educativo e cultural para o povo brasileiro, por criar oportunidades para um encontro pleno de magia, de beleza e poesia com nossa ancestralidade africana e com as contribuições culturais dos demais povos.

Foto Riotur/Reprodução – Ala das Baianas, Acadêmicos da Rocinha, 2020.

Em 2012, uma de suas primeiras edições, encontramos a poética crônica de Elisa Lucinda, que trata de seu nascimento a 2 de fevereiro, em pleno carnaval, marcante em sua infância, nos encantando com a beleza do texto, que pode ser apreciado em qualquer escola do país.

Na edição de 2018 trouxe a Alegria da Zona Sul fazendo a travessia da África ao Brasil, contando a história da negra nagô Luiza Mahin, que se tornou livre e participou da “Revolta dos Malês” em 1835, na cidade de Salvador, Bahia. Seu filho, Luiz Gama, grande líder da luta antirracista no país, foi homenageado pela Acadêmicos do Cubango em 2020 como A Voz da Liberdade, já que recebeu de sua mãe a força e a vontade de voar como um passarinho.

O Roteiro dos Desfiles registra a resistência de um povo que mostra sua identidade e ancestralidade ao mundo. Desde sua primeira edição até os dias de hoje continua dizendo que as escolas desfilam porque existem, ilustrando as diferentes matrizes que formam nossa pluralidade cultural.

Foto Riotur / Reprodução – Comissão de Frente “As Ganhadeiras de Itapuã” da Unidos do Viradouro, campeã do Carnaval 2020.

Ao longo dos anos, com o Roteiro tivemos oportunidades de encontrar personagens e ações do povo negro, quase desconhecidas em nossa sociedade, mostrando a relevância desses personagens pouco presentes nas escolas e universidades. Assim, a Acadêmicos da Rocinha nos brindou com a história de Maria Conga, numa homenagem à Maria da Conceição, heroína do Quilombo que leva seu nome em Magé, na Baixada Fluminense. Apesar da Lei 10639 de 2003, que obriga o ensino da história do povo negro nas escolas, quase nunca se fala dessa heroína.

A Renascer de Jacarepaguá trouxe a história das pretas velhas benzedeiras, exaltando o cuidar das rezadeiras nas comunidades, que, usando os saberes ancestrais sobre folhas, chás e unguentos, aliados a muita fé e sabedoria, possibilitaram a cura e a resistência do povo negro. Se hoje somos 57%da população do país, devemos a elas, que cuidaram de nossa saúde física e mental. Em 2020, a Unidos do Viradouro ganhou o carnaval falando das Ganhadeiras de Itapuã, mulheres que com valentia e criatividade foram escravizadas de ganho, comprando suas alforrias, criando as medidas do Bonfim, cantando o samba de roda do mar e criando os balangandãs de crioula. Lutaram por sua liberdade usando sua arte e sua sabedoria, sendo as mulheres ativistas do século 19. Elas serviram de exemplo para as mulheres ativistas de hoje. 

HELENA THEODORO | Bacharel em Direito e pedagoga, mestre em Educação, doutora em Filosofia e pós-doutora em História Comparada. Pesquisadora da história e da cultura afro-brasileira e professora da UFRJ.

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A Multiplicar atua em produção audiovisual, projetos culturais, acadêmicos e de carnaval. A equipe da Multiplicar é especializada em pesquisa de conteúdo, gestão e desenvolvimento de projetos culturais e produção audiovisual. A empresa é pioneira no desenvolvimento de pesquisa para enredo das escolas de samba, atuando com profissionais formados em História.
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